[1.º Andar] Biblioteca

Tinha de começar a procurar soluções. Eu precisava de me livrar daquele contrato de alguma forma. Mas que forma? Não sabia o que fazer.
Dirigi-me à enorme biblioteca do palácio. Era um sitio calmo e com traços antigos e gloriosos. Eu podia não parecer das raparigas que se perde em livros, mas gostava bastante de me esconder aquilo, no silêncio da biblioteca. Era através de livros que podia sonhar.
Quando cheguei ali, sorri ao keeper da biblioteca, mas não fiquei para conversar. Segui pelos corredores, à procura de algo relacionado com a lei spestigiana.

Precisava de encontrar um livro com informações sobre umas leis pelo que me dirigi à biblioteca do palácio, certamente que não iria haver problema nenhum em ir lá.
Ao entrar e ver a sua grandeza, fiquei admirado e comecei a caminhar calmamente enquanto reparava na sua beleza.

Tantos livros, tantos temas. Como é que iria reduzir ao que precisava? Nada substituirá um bom livro, mas claramente estamos a precisar de fazer como os humanos e entrar na era digital. Isto ia demorar horas... 
Entretanto, enquanto andava por entre as estantes, o meu olhar cruzou-se com uma nova presença na biblioteca. O Huntintin. Só a sua presença corroia-me a pele. Será que ele estava metido com a minha mãe no que aconteceu? Será que ele era inocente como eu? Não sabia o que fazer quanto a ele.

Ao estar a caminhar ouvi barulho e despertou-me atenção. Vi que era a Katherine e contive-me pois não sabia se tinha permissão para entrar ou não.
-Olá.-disse-lhe nervoso.- Peço desculpa mas precisava de um livro, haverá algum problema por ter entrado aqui sem perguntar?

Ele estava nervoso. Consequia ver pela sua postura tensa e pela forma levemente agitada com que me olhava.
Boa. Pode ser sinal de uma consciência.
Quando falou, nem sabia se tinha força para o cumprimentar civilmente.
- A biblioteca é livre a todos aqueles que estão dentro dos muros do palácio. - Disse, optando por responder formalmente à sua pergunta.

Após as suas palavras assenti enquanto agradecia.
-Obrigado.
Passei por ela e continuei à procura do livro. Quando consegui finalmente saber onde estava, olhei para as diversas estantes para analisar os diversos autores e ver quais seriam os que realmente me iriam ajudar.

Ele passou por mim e eu enrigeci no lugar. Eu não sabia mesmo como reagir à sua presença. Mas sabia que não podia manter-me assim. Dava-lhe poder sobre mim.
- Sabia do que a rainha planeava? - Perguntei numa voz baixa, fria e frágil

Ouvi as suas palavras enquanto procurava o livro. Respirei fundo e olhei para ela.
-Se a pergunta na verdade é se eu quero este casamento, a resposta é não. Eu defendo que se devem fazer uniões por amor e não por interesses políticos e económicos. - respirei novamente fundo e tentei permanecer calmo, eu soube do casamento através do meu pai que na verdade era só um progenitor ao qual só lhe interessam mulheres e mais nada.- Soube do casamento no dia anterior ao baile. Foram decisões sem o meu consentimento.

Suspirei.
Então ele estava preso a isto como eu.
- Lamento. - Disse, percebendo perfeitamente se ele se sentisse triste ou preso com isto. - Isto é tudo culpa minha. - Confidenciei.
Não sabia porque lhe estava a dizer isto. Mas a realidade é que se eu fosse a princesa perfeita que a minha mãe queria, isto não teria acontecido.

Olhei para ela e reparei que ela se culpava por tudo o que acontecia.
-Porque achas que a culpa é tua?

Suspirei.
- Se eu fosse a princesa perfeita que a minha mãe quer, ela não teria forçado esta fantochada. - Disse, não escondendo a minha irritação e desdém pela ideia.

Suspirei e arrastei uma das cadeiras que estava numa das pequenas mesas pertencentes à biblioteca.
-Eu não acho que seja por seres boa filha ou má, por seres boa pessoa ou não. Acho e tenho a certeza que é tudo por interesses, a minha família tem algo que a tua precisa e certamente que a tua tem algo que a minha deseja. Se tivessem que te casar com um homem velho, fariam isso sem problema...tal como a minha me iria casar com alguma velha!

As suas palavras fizeram-me rir.
- De facto, podíamos ter calhado com algum avôzinho. - Comentei, sentindo-me ligeiramente mais leve e mais confortável na sua presença. Ligeiramente, atenção! - Ainda assim. Eu faço muitas coisas que a minha mãe considera asneira. - Admiti. - Às vezes gostava de não ser quem sou. Mas não sei ser outra coisa. - Continuei. - É por isso que não abdiquei. E porque não conseguiria deixar o William sozinho. Ele já perdeu demasiado. Quero estar aqui para ele.

Assenti com a cabeça de forma a ela ver que a compreendia.
-Todos cometemos erros e todos fazemos de tudo para ver bem as pessoas que gostamos. Pensa que o teu irmão ainda está numa situação pior que a tua, se a tua posição é relacionada através de interesses, ele ainda mais pois um dia irá ser rei

Encolhi os ombros.
- Não acho que o meu irmão se importe. Tal como eu, ele só conhece a vida dele como sendo o futuro rei. Ele foi treinado para isso. Ele comporta-se em função disso. - Disse. - Hum... Talvez o devesse levar a fazer uma asneira comigo. - Sorri. Aposto que o Dominic ajudava... Espera, eu não vou falar com o Nik. Vou? Não consegui não sorrir quando pensava no Nik. Não, não podia sorrir. Ou podia?

Olhei para ela e sorri suavemente, podia ajudá-la uma vez na vida.
-Vai ter com ele, ouvi dizer que hoje há festa num dos cafés. Se perguntarem por vocês eu tento ajudar.

Olhei para ele e sorri. Talvez o principe pomposo não fosse tão mau assim. Quem sabe, talvez pudesse fazer dele meu amigo. Amigos são sempre valiosos.
- Obrigada. - Levantei-me. - Talvez um dia destes te leve comigo à cidade. - Pisquei-lhe o olho e saí dali.

Olhei para ela e deixei que fosse, pelo menos tinha conseguido que sorrisse para mim.
Continuei a minha pesquisa e umas horas depois fui-me deitar.

ENCERRADO