[2º andar] Quarto da Lisa

Depois da sala do piano só me podia rir, parecia uma maluca pelos corredores do palácio porque ia a cantarolar e a rir-me.
Para toda a gente era óbvio os motivos pelos quais eu e a Kat nos dávamos bem, nem uma nem a outra concorda com as regras de há quinhentos anos atrás, apesar de sermos modernos há coisas que não mudam e nem vão mudar.
Cheguei ao meu quarto e fui-me descalçar antes de saltar para a minha cama enquanto esperava que viesse a Kat com as belas garrafas de vinho da adega.

Quando estava quase quase a chegar ao quarto da Lisa, as amas encontraram-me.
- Vou passar um tempo com a minha amiga, como devem calcular, ficam cá fora. - Disse, entrando e fechando a porta atrás deles. Ri, divertida. - Temos umas horinhas só para nós.
Coloquei as garrafas em cima da mesa de centro, tirei o casaco e saltei para cima da cama. Tirei os sapatos, atirando-os pelo ar e suspirei. - Uma pessoa sofre.

Ri-me quando ela entrou no quarto.
-Pois sofre! Acho que devíamos arranjar daquelas pessoas que são bué iguais a nós e assim poderíamos sair que não iam reparar.

Ergui a sobrancelha, olhando-a confusa.
- Os metamorfos? - Perguntei. - Esses só se transformam em animais. - Disse. - Mas deve haver bruxos com esse dom. - Pensei. - Não interessava, de qualquer das formas. O papá deteta isso. Aposto.

Ri-me e expliquei-lhe o meu ponto de vista.
-O teu pai detetava os bruxos! Agora as amas e os guardas não. Desde que não desconfiassem nunca na vida o teu pai iria saber!

Ri.
- Adoro essa tua mente. - Disse, abrindo uma das garrafas e bebendo um gole enorme. - Uma curiosidade: o que pensas do Dominic?

Bebi com ela e quando ela falou do empregado amigo do William quase me engasguei.
-Então e esse súbito interesse?-perguntei enquanto me ria, eu sabia que ela nao se dava bem com ele por isso tinha a sua piada.

Revirei-lhe os olhos.
- Não te ponhas com ideias. - Disse-lhe. - Apenas me lembrei porque esbarrei contra ele quando fui buscar as garrafas. - Partilhei com ela, contando-lhe um pouco do que aconteceu e o quanto ele me tinha aborrecido. - Ele é tão grrrrrrrr. O que vale é que ele está na outra ponta do palácio e quase que não o vejo.

Só me conseguia rir às gargalhadas.
-Acho que o podias ter convidado a juntar-se a nós.

- Fogo! Não digas asneiras - Disse. - Ele é detestável. Arruinaria o ambiente. - Resmunguei. - Estamos tão bem as duas.

Parei de beber e olhei seriamente para ela.
-Admite que já olhaste bem para o grande corpo que ele tem!

Dei um longo gole, já esvaziando 1/3 da garrafa.
- Bem, só um cego é que não veria o quão atraente é.
- Disse-lhe. - Se não fosse aquele mau feitio, ele seria daqueles homens por quem todas as raparigas suspirariam. - Admiti. - Mas ele tinha de ser aquele rançoso... Uma pena.- A minha cabeça começava a ficar leve, mas isso não me impedia de ir bebendo.

-Acho que apesar do feitio dele muitas das criadas ainda suspiram pela sua atenção.-disse-lhe antes de beber mais um pouco.- Olha lá, geralmente nesta época do ano os teus pais costumam realizar um baile...ainda não sabes de nada?-perguntei porque eu adorava bailes, significava comida, bebidas e músicas, além de rapazes giros claro.

"Hum... Suspiravam?"Pensei ligeiramente incomodada. Será que ele era suspiravel apesar de tudo?
Olhei para ela e encolhi os ombros.
- Deve haver. O meu pai gosta de costumes e tradições.
Mas eles não me incluem nos assuntos. Só o William.

Encolhi os ombros.
-Desde que tu me tragas para estes assuntos por mim tudo bem.-disse-lhe mostrando a garrafa.

Sorri-lhe.
- Sabes que irás sempre fazer parte de mim. - Disse, emocional do álcool. Pousei a garrafa vazia no chão e deixei-me cair novamente para trás. - A minha cabeça está leve.

Ri-me.
-Ainda falta esta!-disse-lhe apontando para a garrafa que ainda estava cheia.

Ri.
- Queres embebedar me, Lisa? - Perguntei, em tom de brincadeira.

Estava a encaminhar-me para o meu quarto quando ouvi gargalhadas vindas do quarto da Lisa, claro que reconhecia as duas gargalhadas.
Acenei aos guardas e entrei rapidamente no quarto, não eram horas decentes para estarem a fazer a festa que estavam a fazer. Quando abri a porta ainda deu para ouvir o que diziam.
-Ninguém irá beber mais hoje.-disse enquanto ia buscar as garrafas.-Isto é tudo menos correto! Primeiro vocês só arranjam problemas e quando não arranjam forma de sair do palácio arranjam sempre forma de fazer alguma asneira cá dentro.-enquanto gritava com elas olhei para ambas, ambas se metiam em confusões e quem levava por tabela era toda a família o que só causava mais problemas no conselho real. Dirigi-me à porta e voltei-me para trás.-Katherine, está na altura de voltar ao seu quarto. Além de que irei ponderar se vocês irão ter oportunidade de estar presentes no baile que irá ser daqui a dois dias.
Com isto entreguei as garrafas aos guardas e fui até ao meu quarto.

ENCERRADO

Quando a minha mãe entrou de rompante, quase que caí da cama com o susto. Ela andou e resmungou pelo quarto, colecionando as várias garrafas ali espalhadas. O meu cérebro alcoolizado teve alguma dificuldade em acompanhar o seu estado exaltado, mas algo consegui perceber: nada de baile para nós se continuássemos a "fazer asneiras".
Levantei-me meia tonta, mas já não ia a tempo de fazer seja o que for, pois a minha mãe já tinha saído.
Suspirei ruidosamente e olhei para a Lisa, triste.
- Desculpa. - Disse, desanimada. - É melhor dar a noite por terminada...
Arrastei-me dali para fora, sem esperar por resposta.
Era a desgraça da família e a minha mãe sempre me lembraria disso. Para quê esforçar-me para ser melhor?

Com aquilo tudo fiquei sem reação. Quando já estava sozinha no quarto deitei-me na cama e adormeci.

****

Finalmente chegou o dia do tão aguardado baile, como nos tinhamos portado bem havia autorização para estarmos presentes. Passei pouco tempo arranjar-me pois queria ir simples, mas perfeita de igual forma.
Calcei por fim os sapatos e caminhei para o salão.

ENCERRADO