[1.º Andar] Varanda

Mais um dia de sufoco naquele enorme palácio... Tinha estado a manhã toda a ajudar a minha mãe da cozinha, e naquelas horas senti-me ligeiramente relaxado. Mas após não ser preciso na cozinha, não havia muito mais que pudesse fazer.
Eu simplesmente não pertencia àquele lugar...
Meio perdido em pensamentos, fui até à varanda, desejoso de um pouco de ar.

Reuniões e mais reuniões, decisões e mais decisões. Já devia estar habituado a toda a agitação mas com o crescimento acabou por ser tudo mais complicado. Precisava de espairecer e decidi ir até à varanda, quando lá cheguei e vi quem estava suspirei. Aproximei-me e fui falando.
-Pensar na vida mais uma vez?

Eu tinha ouvido os passos do William ainda ele não tinha entrado na varanda. Esta habilidade podia ser uma chatice, mas tinha as suas vantagens... Raramente era apanhado desprevinido.
- Nunca haverão vezes necessárias para pensar na vida. - Disse-lhe, relaxando.
Embora ele fosse o príncipe herdeiro, eu sentia-me confortável à sua beira. Afinal, era o meu melhor amigo...

Suspirei.
-O que te trouxe até aqui?-perguntei enquanto me sentava num dos bancos.

Encostei-me ao muro, virado para ele.
- Nada de especial. Apanhar ar, apenas. - Encolhi os ombros. - Terminei o trabalho na cozinha e não tinha muito mais para fazer. - Mirei-o. - E tu? Não devias estar a fazer o que príncipes fazem?

Ri-me embora não tivesse mesmo piada nenhuma e suspirei.
-Acho que hoje já não preciso de ser mais príncipe, acho que já posso respirar um pouco de alivio até porque grande parte das pessoas já estão nos quartos.

Anui.
- Não sei qual é a sensação. Mas suponho que seja, de facto, de alivio. - Disse. - Bem, algumas devem estar nos quartos mas contrariadas... - Comentei, referindo-me à irmã dele, que foi novamente apanhada a tentar escapar do palácio.

Quando ele se referiu à minha irmã acabei por me rir.
-Quando vinha para aqui soube que estava na sala do piano, mas sinceramente a esta hora duvido muito que esteja lá. Aposto que nem com duas "amas" ela sossega.-suspirei.-Deixa que ela aproveite a pouca liberdade que tem agora porque isso pode vir a mudar rapidamente.

Ergui a sobrancelha, mirando-o confuso.
- Vai mudar? - Perguntei. - Mas não por opção dela, suponho.

-A opção é toda menos dela. O Conselho sugeriu e os meus pais disseram que iam pensar na hipótese de ela se casar com um príncipe da outra Casa.-disse-lhe a verdade pois sabia que ele não iria contar nada.

Tentei disfarçar a minha reação surpreendida àquela noticia, mas falhei redondamente.
- Um casamento por conveniência? Com alguém escolhido pelo conselho e pelos Reis? - Perguntei, sentindo alguma pena da princesa. - É desta que o palácio vai abaixo.

Suspirei.
-Ainda nada ficou decidido mas eles sugeriram isso para melhorar as condições do Reino. Melhorar ou não acho que há outras possíveis alianças que se possam realizar mas eles agora lembraram-se desta e não vão esquecer facilmente.

- O reino está assim tão mal que o Rei precisa de sacrificar a filha dele? - Perguntei, arrependendo-me da questão assim que a fiz. Saiu bastante mal. - Desculpa, não é o meu lugar fazer estas questões. É só que do que conheço da tua irmã, isso não vai correr bem. E dizeres-me isso depois de todas as asneiras que ela tem feito, quase que soa como um castigo. - Disse. - Mas talvez isto lhe faça bem e ela deixe de ser uma miúda mimada. - Ele sabia bem do meu desagrado para com a irmã dele...

Assenti.
-Concordo contigo, sinto que é mais um castigo para ver se ela melhora do que sejam finanças. Mas seja o que for, o veredicto vai ser "Para o bem do Reino".

Encolhi os ombros.
-Esperemos que mudem de ideias ou então que tudo corra bem.

- Sem querer ser rude, mas não acredito que nenhuma dessas coisas. - Disse, sério.

Suspirei.
-Eu quero ver é se consigo falar com o meu pai sozinho. Pode ser que resolva isto da melhor forma.

Ele tocou-me e quando ia embora vi o meu pai passar num outro corredor em direção ao escritório dele.
Não ia desperdiçar a oportunidade e fui atrás dele.

ENCERRADO