[3.º Piso] Escritório

Sentei-me atrás da secretária, enquanto ouvia as suas palavras.
Será que era para o bem dela? Tudo o que eu queria era que os meus filhos fossem felizes.
Não respondi, apenas assentindo com a cabeça.
Chamei um dos criados e pedi para chamarem os meus filhos. O Edward devia estar a chegar.

Cheguei ao palácio e pedi indicações para o escritório. Quando o encontrei bati levemente à porta e entrei.
Era um local acolhedor, já estavam presentes o rei e a rainha pelo que fiz uma vénia.
-Vossas Majestades.

Ainda estava magoada e furiosa com a atitude dos meus pais. E quando me chamaram ao escritório, fiquei tentada em não ir. Eles mereciam que nunca mais falasse com eles. Mas, burra como sou, decidi lá ir. Até queria ver o que me iam dizer.
Quando lá cheguei, reparei numa presença extra, num estranho. Vá, eu tinha vaga ideia da cara dele, mas não era alguém que fosse importante para reparar.
Porém, não pude deixar de pensar na razão para a presença dele e a minha mente voou logo para o casamento arranjado da Lisa.
- Não ! Não ! - Exclamei, começando a sentir a raiva a ferver-me as veias. - Não se atrevam a dizer aquilo que eu estou a pensar.

Ia cumprimentar o Edward, quando a Katherine entrou. Congelei logo no lugar, vendo a sua expressão passar de confusa a irritada. Ela sabia. Ela percebeu logo.
Antes que pudesse dizer seja o que for, ela começou logo a falar e eu apenas esperei que ela se acalma-se.

Quase chegaram ambos ao mesmo tempo pelo que nem deu para dizer uma única palavra, não com assimilação instantânea de Katherine. Senti o Leonard ficar tenso e quase bloqueado pelo que decidi ser eu a falar.
-Bem vindo de novo Príncipe Edward de Huntington!- proferi enquanto lhe estendia a minha mão para o cumprimentar.- Apresento-lhe oficialmente a minha filha, Princesa Katherine Hale.-continuei apontando para ela.- Katherine, apresento-te o Principe, teu futuro marido.-comuniquei esboçando um sorriso para ambos.

Já me tinham avisado que não seria nada fácil pelo que psicologicamente eu ia com todas as armas de defesa.
-É um prazer conhece-la formalmente.-disse-lhes pois no baile pouco ou nada tínhamos falado.

O meu olhar voou do meu pai para a minha mãe, sendo que ignorei completamente a presença do outro palhaço. Respirei fundo, várias vezes, tentando não saltar para cima da nossa querida rainha e arrancar-lhe o cabelo à dentada. Deselegante, eu sei, mas ela merecia.
Finalmente olhei para o outro, com desprezo.
- Desampara a loja, palerma. - Disse com uma voz azeda. - Se achas que vou casar contigo, estás bem enganado. - Continuei, com uma voz cortante. Aproximei-me da secretária e coloquei as minhas mãos sobre ela, com um baque forte. O meu olhar prendeu-se ao do meu pai. Não iria dirigir-me à minha mãe, ela não merecia sequer o ar que respira. - Ninguém dita com quem eu me caso. Ninguém dita com quem eu me relaciono. Eu, e apenas eu, escolho quem quero do meu lado. E se achas que me vou subjugar e aceitar aquilo que me impões, então não me conheces verdadeiramente. - Disse, numa calma irritada. - Eu vou revirar cada centímetro deste lugar até descobrir uma forma de quebrar esta regra estúpida de ser os pais a escolher a vida dos filhos. E se não conseguir, abdicarei de todos os meus títulos e farei isso de bom grado. Quem comanda na minha vida sou eu e se tenho de deixar de ser Princesa e até tua filha para seguir o meu coração, farei. Mas casar-me com um idiota pomposo que não conheço... - Respirei fundo. - Fico triste em saber que ter um título, nesta terra, significa que somos proibidos de amar.

Presenciei aquilo tudo e não me consegui manter calada. Na secretária estava um gaveta que era só minha e abri procurando uns papeis, quando encontrei tirei-os.
-Queres abdicar dos teus titulos? Força!-disse-lhe pousando os papeis em cima da mesa e uma caneta.-São 4 folhas, assina e ficas livre deste casamento. A escolha é tua. Estou cansada das tuas atitudes, só te envergonhas a ti e à tua familia. Devias ter mais consideração pelo teu pai pois se não fosse ele estarias a viver de baixo de uma ponte e acredita que não é nada bom.-apontei para Edward e continuei.-Não devias insultar ninguém e muito menos julgar pelas aparências e sem conheceres.
Apontei novamente para os papeis e olhei-a nos olhos.
-Assina rápido porque sem assinares eu não deixo que saias daqui. E informo-te que permito que leves uma parte das tuas coisas e Bex para onde quiseres mas nada mais

Nem tive oportunidade de responder seja o que for, pois a Mary interviu no meu lugar.
Quando ela tirou os papeis da gaveta, nem reparei qual gaveta ou quais papeis. Levantei-me logo e coloquei uma mão sobre os papeis.
- Katherine, pensa no que estás a dizer. Não sejas imprudente. Pensa no que fazes pelo menos uma vez.

Eu estava a ferver por dentro. Como detestava aquela mulher.
Finalmente olhei para ela, depois dela me falar e controlei a vontade de cuspir-lhe em cima.
- Eu não consigo ter consideração por um homem que se apaixonou por uma cabra como tu e permitiu-a governar um país que não a merece. - Disse. - E quanto a dizer seja o que for, para já ainda estou na minha casa e digo o que me apetece. Mas também não estou por muito tempo. - Peguei na caneta e preparei para assinar os papeis quando o meu pai finalmente falou. - Não, papá, não vou pensar. Porque se o fizer assino mais rápido pois lembro-me do nojo que sinto de vocês. - Empurrei a mão dele e assinei.

Olhei aquilo tudo e só me apetecia que houvesse ali um buraco para me esconder. Sabia que iria reagir mal mas não tanto, já me tinham dito que a Rainha era fria mas nunca tinha imaginado que fosse pior que o gelo. O Rei pediu que a Katherine pensasse mas eu simplesmente estava a contar que assinasse os papeis, se era isso que ela queria eu não iria impedir.

Ela assinou e eu não escondi o meu sorriso triunfal. Sabia perfeitamente que eu era má, mas tinha que ser, principalmente nestas alturas. Recolhi os papeis e assinei também colocando uma data. Fui até à impressora e enviei pelo fax uma copia deles.
-Relembro-te que estás na casa dos teus pais, acima de tudo estás na casa de quem governa o teu Reino e de quem te alimenta. Não foi essa a educação que te demos e agora vais perceber que seres assim não te leva a lado nenhum, pelo contrário.-olhei para Edward e Leonard e sorri-lhe. Provavelmente não iriam concordar com a minha atitude mas compromissos são compromissos.-Obviamente este casamento estava acordado e tem que acontecer, não vai ser por uma rapariga mimada que não vai acontecer. Aqueles papeis eram um acordo pré-nupcial, um acordo em que ela assinou que concordava com o casamento e além disso eu assinei também o que reforça ainda mais o documento.
Olhei para ela seriamente e falei-lhe.
-Vais-te casar no próximo verão. Lembra-te que quem manda somos nós, se não tivesses aquela atitude talvez pensássemos duas vezes e chegássemos a outro acordo mas com a falta de educação que tiveste, tens aquilo que mereces. Estás dispensada para sair do escritório, não irás deixar de cá viver até ao casamento, quem irá mudar-se para cá é o Edward, o qual já trouxe os seus pertences e uma copia do acordo foi enviada aos seus pais.

Naquele momento, caiu-me tudo. Ela... Ela fez o quê?
- Cabra mal parida ! Odeio-te! - Berrei, atirando-me a ela. Desejava ter outro dom naquele momento, mas não tinha. E, por isso, usaria o corpinho que me deram. A primeira chapada voou inconscientemente, só me apercebendo quando a minha mão doía. Mas não me importei. Cuspi-lhe, enojada.
- Tu morreste para mim! E se eu me casar, o que farei de tudo para impedir, espero não te ver lá. - Disse virando as costas. - Melhor, espero até lá celebrar o teu funeral. 
Abri a porta e preparava-me para sair.
- Oh ! Espero que tenham sonhos maravilhosos esta noite. Aconselhava-vos a nem sequer ir dormir, mas façam-no para meu prazer. - E saí, quase destruindo a porta com a minha passagem.

Mantive-me calma perante aquilo tudo e virei-me para Edward.
-À saída está um funcionário que te vai mostrar o palácio e onde vais ficar. Peço desculpa por isto tudo. Podes ir também.
Ele assentiu e saiu dali. Com isto olhei para Leonard enquanto esperava que me repreendesse tal como o devia fazer.

Os meus pais sempre me tinham ensinado a ler tudo antes de assinar e agora percebia porque. Despedi-me deles e fui procurar o meu quarto.

ENCERRADO

Levantei-me, calmamente, e fui até à janela, olhando lá para fora. Não conseguia olhar para ela, pois sabia que me iria exaltar.
Como é que não dei pela sua mentira? Sim, o amor era cego, mas ainda assim...
- Suponho que saibas a borrada que acabaste de fazer. - Disse, numa voz fria. - E também suponho que saibas que terás de corrigir este problema que criaste.

Vi o dirigir à janela e mantive-me no meu lugar.
-Que dirias sobre cancelar o casamento? Que farias se ela realmente abdicasse dos títulos e de tudo o que a faz ser quem é?-perguntei-lhe sem medo. -Sabes melhor que ninguém que isto tinha que acontecer.

- Sei? Sei? - Perguntei-lhe, virando-me. - Neste momento, não tenho tantas certezas. -  Disse, aborrecido. - Os títulos não fazem quem ela é, e sabes disso. E se ela abdicasse, era a escolha dela. Ela tinha o direito de a fazer. Se eu gosto, não. Mas era a escolha dela. E eu sei os meus limites. Tu sabes os teus?

Acabei por me afastar ainda mais dele com aquilo tudo.
-Eu posso acabar com isto tudo, diz que é isso que queres e eu acabo.-disse-lhe sem medo. Se ele não concordava eu assumia as culpas e terminava com o casamento e deixava que ele tratasse da abdicação.

- Eu quero que resolvas o problema sem criar um problema com os pais do Edward e sem perderes a tua filha no processo. Consegues fazer isso? Porque eu neste momento não vejo como. - Disse. - Cancelar a união dar-te-ia a filha de volta, mas criaria conflitos com os Huntington. Prosseguir com isto, manteria toda a paz entre as famílias e afastaria completamente a Katherine. Explica-me como pretendes resolver isto? Diz-me, porque eu não consigo ver como.

-Tens que perceber que ela abdicar iria arranjar conflitos de igual forma! E tu acabarias por a perder na mesma só pelo facto de propores um casamento, já a perdeste quando foi do casamento da Lisa!

- Mas era a escolha dela e eu teria de viver com isso. - Disse. - E sim, eu sei que a minha relação com ela estava danificada, mas era possível reparar. Agora, isso é impossível.

-Que queres que eu faça?-perguntei-lhe para saber qual a sua decisão definitiva.

Olhei para ela.
- Se soubeste meter-te nisto, também saberás como sair.
Dito aquilo, sai sem mais uma palavra.
Precisava de estar sozinho.

Vi-o ir embora e fui também.

ENCERRADO