[R/C] Cozinha

Toda a situação no palácio estava a deixar-me nervoso. Não podia deixar transparecer isso ou sequer deixar-me afetar por isso. Eu era o Rei, por amor dos deuses. Ms este problema com a Kat era muito perto do meu coração e eu sabia que me iria sempre afetar. Precisava de conversar com alguém fora disto e com uma perspetiva diferente. E eu sabia quem...
Desci até à parte do pessoal e entrei discretamente na cozinha. Sinalizei ao pessoal para sair, deixando-me sozinho com a pessoa que vinha conversar.
- Olá Izabelle. - Disse suavemente.
Apesar de todas as peripécias, o meu coração ainda sentia um enorme carinho por aquela mulher.

Estava entretida a planear as próximas ementas para o palácio juntamente com um dos mordomo quando ouvi a voz de Leonard. Olhei para ele e sorri suavemente.
-No que te posso ajudar?-perguntei assim que ficamos sozinhos, a cara dele dizia tudo. Ele estava a precisar de pelo menos desabafar, notava-se a sua preocupação o que só dava confirmação aos rumores que existiam de haver problemas com casamentos reais.

Olhei ao redor e comecei a pegar nalgumas coisas para preparar um chá para nós. Sim, eu sei que tenho pessoas para me servir, mas também gosto de me sentir um pouco perto da Terra, por assim dizer.
- Gostarias de me acompanhar um chá? - Perguntei, antes de responder. Ela conhecia-me bem. - E ficamos numa conversa com umaa confidencialidade reforçada pelo chá? - Brinquei levemente.

Sorri perante a sua proposta, após tantos anos como ainda me conseguia fazer sentir tão bem? Talvez fosse realmente por ser boa pessoa e especial.
-Um chá de camomila parece-me bem.-ri-me ligeiramente e comecei a fazer o chá ao ver que ele não conseguia encontrar muito bem as coisas.- As chavenas estão no teu armário à direita, segunda porta.- sugeri pois sabia que ele iria tentar ajudar ou dizer que faria ele o chá.

Estava tão perdido ali. Mas quando ela começou a dar-me instruções, seguia-as com um sorriso ténue. Era bom ter amigos e poder partilhar momentos com eles.
Depois de tudo pronto, sentamo-nos. Olhei para a minha chavena, sem saber por onde começar.
- Sinto que é mais fácil ter uma palavra na governação de Spestigium do que na minha família. - Confidenciei, triste.

Ao sentar-me com ele na mesa e ao ouvir as suas palavras suspirei.
-Tens um peso muito grande nos ombros. Nenhuma decisão é fácil, seja na família ou no reino.-bebi um pouco de chá e continuei.- Quais são as palavras que mais te magoam em relação à familia?

- Eu não quero ver a Katherine a cometer os mesmos erros que eu. Ela pode não herdar a coroa, mas ela ainda tem responsabilidades para com o reino. - Suspirei. - Mas também não a queria encostar ou vê-la a ser encostada à parede. - Confidenciei. - Eu não quero perder a minha menina e sinto que é o que está a acontecer.

Olhei para ele com carinho, não conseguia evitar e respirei fundo antes de falar.
-Não é uma situação fácil, já se sabia que algum dia iria acontecer. E sabíamos bem que a Katherine não ia aceitar facilmente. Porque não experimentas abordar o assunto de outra forma?-bebi um pouco de cha enquanto deixava que ele pensasse um pouco e depois continuei.-Ela já conhece o rapaz, já sabe que estão comprometidos mas, deixa que se conheçam. Deixa ver se ele realmente é bom para ela e pode ser que ela até venha a gostar dele, se assim for o casamento acabará por ser por amor.

Suspirei.
- Não há muito outra forma que se possa ter agora. - Disse, triste. - Eu só queria que ela endireitasse. Sim, pensei em casá-la, mas estava na esperança de ter tempo de convencê-la ou pelo menos tornar o processo mais fácil. - Continuei. - Mas a Mar... Mas fizeram coisas que vai para lá do meu controlo que agora não posso mudar. - O meu coração apertava com o pensamento do último encontro que tivemos com a Katherine. - A única forma que a Katherine tem de sair disto é perder os títulos que tem e eu não quero que ela faça isso. É perdê-la completamente.

-O que posso fazer por ti?-perguntei-lhe pois com as palavras dele estava visto que realmente nada podia melhorar a situação.

Suspirei com tristeza.
- Acho que nada, a não ser ouvir-me.

Toquei-lhe suavemente numa das mãos.
-Sabes que estou aqui para tudo, seja bom ou mau.

Coloquei a chávena na mesa e a minha mão livre por cima da sua.
- Eu sei. - Disse, com um leve sorriso. - Eu também estou aqui para ti.

Dirigi-me à cozinha para beber água, antes de ir dar uma pequena caminhada pelo jardim. Quando entrei vi que o Leo estava acompanhado e num momento mais intimo. Tentei manter a minha postura e ser educada.
-Só vim beber um copo de água, peço desculpa por interromper.

Assim que ouvi a voz da Mary, endireitei-me na cadeira, afastando-me ligeiramente da Izabelle. Fiquei rígido no lugar.
Oh como detestava isto. 
Se continuar junto da Izabelle, sinto que traío a rainha. Se me afasto, sinto que traio a minha grande amiga. 
E é nestes momentos que percebo os sentimentos da Katherine e o quanto gostava de ter sido outra pessoa.
- Bom dia Mary! Não interrompes. - Cumprimentei-a, ignorando a situação em mãos. - Como estás esta manhã?

Ao ouvir a Mary congelei, ela era a Rainha e acima de tudo a sua mulher. Vi que ele permaneceu confortável o que conseguiu e manteve a sua postura mas, sei perfeitamente que eu estaria completamente corada como se fosse uma miúda apanhada a fazer asneiras pelos pais.

Observei as suas reações e nem sabia o que sentir. Ciumes, inveja, irritação talvez, uma mistura de sentimentos muito grande. Enchi o copo com água e virei-me na direção deles para responder ao Leonard.
-Pronta para mais um dia de decisões difíceis. E tu?

As suas palavras foram como um golpe no meu corpo, mas não deixei transpacer que estas me afetavam. Não podia, nem para a Mary.
- Pronto para que as decisões que se tenha de fazer não sejam dificeis. - Disse simplesmente.

Sorri suavemente.
-Esperemos que ganhes e realmente não sejam dificeis nem devastadoras.
Comecei por me dirigir a porta enquanto falava.
-Resto de um bom dia.

Com isto, retirei-me da cozinha e direta para o escritório na esperança que o dia realmente se tornasse mais meigo nas decisões.

ENCERRADO

Não consegui conter um suspiro de alívio quando ela saiu e olhei para a Izabelle apologeticamente.
- Acho que depois disto preciso de algo mais forte que um chá. - Sussurrei. - Peço imensa desculpa por este mau-estar. 

Sorri-lhe suavemente depois de a ter visto ir embora, por vezes as suas palavras pareciam laminas.
-Não há problema nenhum, desde que não haja confusões.

- Os problemas são entre nós e somos nós que temos de resolver. - Disse. -  Eu não permitiria que algo te acontecesse como resultado disto. - Prometi. - A ti e ao teu filho, é claro. - Continuei.

Olhei para ele com carinho e evitei tocar-lhe.
-Eu sei que podemos contar contigo, obrigada por tudo.

- Não precisas de agradecer. - Disse. - Os amigos são para as ocasiões. - Continuei.
Entretanto, olhei ao redor e levantei-me.
- Acho que é melhor ir, antes que apaguem fogos com explosões. - Disse, cansado. - Obrigado por me ouvires. - Despedi-me dela e segui para o meu escritório, pronto para tratar dos assuntos do reino.