[Subterraneo] Cave de Vinhos

Podia encarar as suas palavras como presunção, mas não o fiz. Parecia mais determinada, do que egocêntrica.
- Gosto mais de te ver assim, destemida. - Disse. - Mas como pretendes fazer isso?

Encostei a cabeça para trás, perdida.
- Não sei. - Admiti, triste. - Preciso de ver o documento. Talvez consiga encontrar algo nas entrelinhas. - Disse, pensativa.
E entre alcool e maluquice, algo me atingiu.
- Já sei! - Exclamei, levantando-me determinada. - Tenho de me casar com alguém da minha escolha. Consumando a união, ninguém a pode desfazer.

A sua mudança súbita confundiu-me, mas levantei-me também, tentando acompanhá-la.
- Tu pretendes fugir de um casamento, casando-te?

Quando ele fez aquela questão, eu percebi o quanto o que eu disse parecia parvo.
- O meu problema não é casar. Eu sei que iria ter de fazê-lo eventualmente. É casar com alguém que não amo. - Disse. - O facto é que também nunca me abri nem mostrei disponível para tal. Com os eventos que vêm, talvez encontre a minha alma gémea. Talvez me apaixone. Tenho até ao próximo verão para fazê-lo. - Continuei. - O quão difícil pode ser? - Olhando para ele, percebi que não iria ser assim tanto. E aquele beijo era a prova daquilo. Talvez... Não, não sejas parva, Kat. Este momento simpático é um momento sem exemplo. É ele com pena de mim.

Quando o seu olhar recaiu sobre mim, percebi para onde os seus pensamentos se dirigiram.
Imaginei-me a beijá-la novamente. Imaginei-me até a ser a sua escolha. Mas limpei logo os seus pensamentos. Parecia parvo. Eu era um plebeu rasca, filho de um humano. Ela nunca olharia para mim e até me repugnaria se soubesse a verdade.
- Bem, espero que consigas alcançar aquilo que desejas. E, acima de tudo, que sejas feliz.

Bebi mais um pouco da garrafa e pousei-a num canto. Arranjei-me e olhei para ele. Eu era a princesa! Eu era poderosa! Eu não podia ir abaixo e deixar aqueles que me querem mal vencer.
Ergui o queixo, pronta para ação.
- E serei. - Rodei nos calcanhares e preparei-me para sair dali. Já perto da saída, olhei para ele e sorri. - Obrigada Nic. Não me vou esquecer deste momento.
E, depois daquilo, saí.
Estava na hora de sambar na cara das inimigas.

Aquela rapariga era um turbilhão de emoções. Quem segurasse aquela mulher ia precisar de muita força.
Ainda assim, não pude deixar de sorrir perante aquela sua atitude. Era quase inspirador... Também devia enfrentar assim os problemas, em vez de os aceitar...
Nem acredito que estou a ser inspirado por ela, pela princesa que sempre achei mimada. O mundo estava mesmo na beira da rutura.
Saí dali e regressei ao trabalho.