[Exterior] Cavalariças

Mais um dia, mais um palácio sufocante. Porém, desta vez não era a minha habitual rezinguisse. Estava mesmo...
Os reis fingiam estar bem diante da equipa, mas nós sabíamos que continuavam chateados. Nunca pensei ver a Katherine a passar tanto tempo na biblioteca e mal tenho visto o William.
Dado a ambiente, qualquer desculpa para andar cá por fora era agradável, pelo que tenho trabalhado mais nas cavalariças.
Ao menos os cavalos só resmungavam quando com fome.

Precisava de espairecer, o ambiente cada vez estava mais pesado e nada ajudava a que melhorasse. Entrei nas cavalariças e vi o Dominic a trabalhar.
-Precisas de ajuda?

Estava entretido até que ouvi uma voz familiar. Ergui o olhar e acenei ao William.
- Já sabes qual será a minha resposta. - Disse, recusando a sua ajuda com a cabeça.

Ri-me com a resposta dele, sabia sempre que ia recusar. Tirei o casaco e pendurei-o num dos cabides que por ali havia e aproximei-me dele a ver o que estava a fazer para o ajudar. Precisava de me distrair.
-Já há algum tempo que não te via.

Reparei no que ele estava a fazer e fiz-lhe uma cara feia.
- Nem tentes. Já sabes que não me podes ajudar. - Disse. - Seres meu amigo já deixa algumas pessoas com comichão. Não tornes as coisas piores. - Ao perceber o que disse e no tom que disse, respirei fundo. - Desculpa, mas as coisas andam más por todo o lado no palácio. O ambiente de cortar à faca entre vós também afeta os mais pequenos. - Sendo os mais pequenos nós. - Tenho andado ocupado. Há muito trabalho cá por fora.

Vi que ele tinha razao, uma pequena coisa afetava toda a gente.
-Lamento que também vos afete. Pode ser que depois as coisas acalmem novamente

Não consegui disfarçar a careta.
- Não quero parecer rude, mas se achas isso andas um pouco ao lado das coisas. - Disse. - A Katherine vai fazer de tudo para não casar.

Suspirei e acenei em concordância.
-Para fazer com que isto não aconteça ela teria que fazer alguma coisa que anulasse o casamento e sinceramente só me ocorre uma.

Ergui a sobrancelha.
- O quê? - Perguntei, curioso.

Respirei fundo e acabei por lhe contar, sabia que nada iria sair dali.
-Há casos antigos mas que podem ser usados muito bem na atualidade. Se a Kat se casar em segredo, basta que tenha uma testemunha, e consumar o casamento ninguém a pode obrigar a casar com outro. Um casamento não se pode sobrepor a outro por nenhum motivo. Como sabemos divórcios não são bem vistos nem aceites pelo que ninguém lhe poderia anular o casamento.

Casar em segredo? Isso não parecia algo que a Katherine estivesse disposta a fazer.
- Não me parece que a tua irmã irá se casar para fugir a um casamento. - Disse. - Afinal, o problema na equação é o casamento.

-Exatamente, o problema está aí, ela não consegue fugir desta decisão.

Suspirei.
- Sem querer ser rude, mas olho para a Rainha e dou graças aos deuses pela minha mãe. 

Sorri.
-A Rainha até nem é má, mas segue muito as regras à letra. Eu também não me posso queixar da minha mãe.-disse-lhe no gozo

Revirei os olhos. Se ele dizia que ela não era má, quem era eu para contestar?
Quando ele falou da mãe dele, não consegui ficar triste.
- Sentes a falta dela?

Encolhi os ombros e acabei por me encostar à parede.
-Sonho muitas vezes com ela, como se estivesse viva mas eu sei que não, até porque nunca consegui esquecer o funeral.

Nem sabia bem o que dizer. Não há nada que pudesse dizer que fosse diminuir a sua dor. Se eu perdesse a minha mãe... Acho que nem saberia como continuar a viver.
- Acredito... Não deve ser fácil. - Disse. - Mas talvez possas fazer algo para honrar a memória dela.

-Como por exemplo...?-perguntei pois nada me ocorria mas agradava-me a ideia.

Cocei um pouco o queixo, pensativo. Depois surgiu-me algo.
- Não vais discursar no festival este ano? - Perguntei-lhe. - Talvez possas fazer algo. 

Um sorriso se formou na minha cara.
-Não seria má ideia, não sei como mas era uma otima ideia.

- Pois, também não sou bom nessas coisas. - Disse. - Mas acredito que pensarás em algo.

-Ainda nem no discurso pensei.-disse lembrando-me que já faltava pouco tempo.

Ri.
- Então devias tratar de pensar no assunto. Está quase aí.

Ri-me com ele.
-Ir para um escritório pensar não vai ajudar, acho que vou passear por aí a ver se ganho inspiração.