Corredores

Arrastava-me pelos corredores em direção ao meu quarto. Sentia-me entorpecida pelo álcool e pelo pesar das palavras da minha mãe. Eu sabia que não era a filha perfeita, mas ela detestava-me assim tanto?
Estava tão ausente do meu redor, que quase caí quando bati contra algo. A única razão pela qual não caí foi porque duas mãos fortes seguraram-me em pé.
Pestanejei várias vezes os olhos, confusa.

Caminhava pelos corredores com destino ao meu quarto, quando choquei contra alguém. Instintivamente, as minhas mãos seguraram a pessoa diante de mim. Rapidamente apercebi-me quem era, pelos seus cabelos loiros. Ora, isto ia ser bonito.
- Estás bem? - Perguntei, assim que reparei no seu olhar vidrado.
Assim que ela abriu a boca, notei a razão pelo seu olhar estranha. Estava bêbada...

Assim que ouvi aquela voz, o meu corpo endureceu e afastei-me. Aposto que ia mandar mais uma das suas bocas, como habitualmente fazia. Ou um dos seus olhares de critica... Como se eu precisasse disso.
- Não vês por onde andas? Tanto espaço por onde passar e tinhas logo que vir contra mim. - Disse, chateada. - E o que estás a fazer deste lado? Não devias estar na pocilga?
Olhei-o com uma postura de soberania, tentando disfarçar a minha mente turva e o meu coração triste.

As suas palavras surpreenderam-me, mas nem respondi. Ela não valia a pena. Era só uma rapariga pequena a tentar fazer-se de grande.
- Lá porque tu fazes borrada, não significa que a culpa seja dos outros. - Disse, num tom de voz baixo e seco. - Mas se isso te faz sentir melhor e dormir bem à noite, não é problema meu. - Continuei, passando ao lado dela. Antes de ignorá-la por completo, sussurrei-lhe ao ouvido. - Tu não vales a dor de cabeça.
E depois daquilo, saí dali em direção ao meu quarto.
Era mesmo mimada a miúda. Antes tinha pena dela, agora acho que casar e ir embora dali era o que ela merecia.

Quis chorar perante as suas palavras, mas não o fiz. Ergui a cabeça e segui em frente, por muito turva e mal que me sentisse.
Eu sou muito mais do que aquilo que pensam de mim. Eu sabia-o e não precisava de o provar a ninguém.